CICLO
Madrugada. Quatro horas da manhã,
Corpo estremece.
Longe, bem longe dali
o sopro fresco do vento
balança os canaviais.
Longe, bem longe dali
o dever aguarda.
Roupas surradas, um virado
e muita água
um ônibus barulhento
e muitas vozes a falar.
Longe, bem longe de casa,
o sol estarrecedor
já desponta no céu
para vingar do trabalhador
a força emprestada
ao longo dos anos pelos seus raios.
Para vingar o fruto da Terra,
para cobrar o calor fornecido,
para pedir do cansado e aflito
o erro de Adão e Eva
expulsos do Paraíso
por pura sedução.
Dia turbulento,
cair da tarde, sol se pondo,
raios vermelhos de poeira.
Longe, bem longe dali,
uma casa, um lugar ao sol
vidas balançam à espera do pão.
Nova noite. Mais um dia vencido...
Agora, madrugada, quatro horas da manhã...
06 de Outubro de 1999.