Conflito de Terras
O sol desponta leste
E já se vê labor pelos canaviais
Na zona mata do nordeste
Tantas famílias escravas rurais
“Minha filha já corta cana sozinha
Porque desde menina a fiz saber
Não, ela não tem nenhuma bonequinha
Talvez sonhe em ler ou escrever...”
O amor caminha ao lado dessa rude gente
Sua voz sem-idade faz-se clamar
Entre o chão rachado que acolhe e sente
Os passos frios dos homens sem lar
Conflitos de Terra
Crianças ao chão
Retratos de guerra
Temidos irmãos
Teixeirinha chora, Teixeirinha é pego
Invadiu, se apossou, revolucionou, sofreu...
Humilhado, arrastado, espancado, morreu
Mérito deixará aos filhos e netos...
Brasil nordeste, Brasil conflito
Sementes ao vento, poder político,
Terror, sangue, morte, destruição
Um quê de lamento em cada invasão
Conflitos de Terra
Crianças ao chão
Retratos de guerra
Temidos irmãos
A violência que recrudesce.
Setenta e cinco pessoas são assassinadas;
Collor promete a reforma agrária;
O congresso não aprova, a melhora não acontece;
“Eu fui presa por cinco soldados”;
Armados, bem armados até os dentes!
Eu apenas queria o que de fato
Jamais obtive... Meu marido? Morreu como indigente!”
Humanos puros, brasileiro civil...
Encarados como posseiros a olhos vil
Fazem jus ao que é de todos
E de todos o que sonham alguns
Conflitos de Terra
Crianças ao chão
Retratos de guerra
Temidos irmãos
Floresta Amazônica
Um homem xapurí
Seringueiro heróico
Chico Mendes eu vi
Lei agrária, Rito Sumário...
Onde estão nossos tratados?
Mão-de-obra, trabalho escravo...
Nossa lei no plenário é papel picado
O sol desponta oeste
O estado, o seu poder prevalece
Mantendo o nosso coração parado...
“Quem sabe essa nova reserva extrativista
Nos abra do sonhar mesmo que pouco
Nossa justiça sonha liberdade?
Mendes morrera por nós e veneremos por ele
Amor, paz e esperança, almejamos
Conflitos de Terra
Crianças ao chão
Retratos de guerra
Temidos irmãos
Brasil, o vosso leito,
O vosso coração,
Se a Deus pertencem
Livrai os vossos filhos
Dessa ingratidão.