AOS MEUS HERÓIS!
Aos pés das letras...
Quantos são os meus heróis!
E é a eles que escrevo todos os meus dias.
Eu os enxergo em cada canto obscuro dos íngremes caminhos.
São ídolos anônimos, que sequer são notados,
A não ser por alguns lapsos dos corações.
Meus heróis não tiveram tempo para nada
Mas agora e para o quase tudo
Têm todo o tempo do mundo!
Não se conta tempo
Quando não se tem destino certo.
São ídolos que não vão ao cinema e nem ao teatro,
Posto que encenam no palco da própria vida
E o igual (eu sei!) sempre cansa muito.
Esses meus ídolos nunca tiveram roteiros
Porque a ninguém é dado o real poder de comando.
Quem acredita que manda, de fato ignora o todo.
Mesmo assim , meus heróis obedecem!
E então apenas caminham em silêncio,
Ao léu da vida!
E agradecem as míseras migalhas da "caridade"
Com o olhar benevolente.
Meus heróis são o próprio show
Que nunca pode parar.
Vagueiam pelas ruas e pelas calçadas,
Nos semáforos das avenidas
Sob pontes e viadutos de grife
Sob os discursos dos palanques da hora.
Flutuam nas catástrofes anunciadas
Povoam as tristes esquinas dos perpétuos momentos.
Meus heróis aceitam qualquer programa
Porque nunca foram programados
Para viver.
Meus heróis vestem -se dos containers
Em meio aos tesouros de sucatas.
De todos os similares de "Louis Vuitton"
Que nunca sonharam desfilar
No prazer de servir com utilidade...
Aos momentos de ânsia.
Como são tantos os meus heróis
Que milagrosamente ainda acreditam.
Ah, quantas letras anônimas
Pelos dias que se seguem,
A quem leio, leio e releio com perplexa admiração...
Nunca aprenderam a ler, sequer a escrever,
Mas como publicam histórias isentas de penas.
Esses meus heróis de tantas invisíveis algemas!
Que, todavia, batem palmas à própria tragédia,
E depois sucumbem às overdoses...
De todas as drogas!
Também morrem de fome,
De falsas intenções
De discursos sem cursos
E do vil descaso.
Aos meus heróis eu escrevo,
Aos que nem depois de mortos
(Seria em vida?)
Se dariam conta de que rezam aos deuses errados.
Eis o único equívoco desses meus heróis!
Falsos deuses jamais operam mudanças
Porque desconhecem todos os milagres.