FAVELA
A Senzala fugiu da Casa-Grande,
ganhou as avenidas
e subiu nos morros.
Em suas ruas estreitas,
rostos suados e pernas bem-feitas...
Todos correm apressados.
Em cada casebre,
velhos rugosos e rostos imberbes
procuram, dia a dia,
ganhar o pão e o chão.
Nem sol, nem chuva
nem a lei da gravidade
abalam a firme estrutura
desta pseudocidade.
Mil novos Quilombos
se erguem aos tombos
na chamada civilização,
com rios de asfalto
e palmeiras de plástico,
sem cor nem umidade:
São Palmares de verdade !
A Senzala mudou de nome;
batizaram-na Favela
que por nós vela,
do alto do morro.
Tornou-se Casa-Grande
e todos nós, restantes
nos transformamos na Senzala
da Cidade Grande.