D E S P R E Z O
O choro chora envergonhadamente.
A lágrima lamenta sem ter onde cair.
O coro não tem descendente.
A solidão não tem para aonde ir.
É grito engasgado, fincado no peito sem alma;
Sem destino, sem sonho, sem Éden...
Como o pé sem planta, mão sem palma,
É tratado com desdém.
Não há maior castigo que o desprezo.
Onde a alma Feri de morte!... É grito sem asilo!
É pior que um morto sem funeral, sem túmulo.
Onde seu destino é esse inferno.
Seu choro chora, lastimavelmente, sem rumo...
Sem ter o direito de enxugar as lágrimas do terno.
É lágrima sem olho, sem face, desumana.
É solidão que dói na escuridão mais soberana...
Sentimento de morte é o desprezo!
É perder a reminiscência, a luz, o mandamento.
Jamais um corpo assim, renasceu ileso.
É maldição que não se pode inventariar.
É carregar pra sempre este sofrimento.
É ser crucificado sem ter o direito de ressuscitar.