(Alcides comemorando com a mãe, a conquista do 1º lugar de Biomédicas da UFPE)
Driblando Os Caminhos Sem Sorte
Não tenho o dom da visão, e nasci na periferia, tateava com a palma da mão, uma vida que eu não sentia, a minha astuta audição, aumentou a minha agonia, pobre, cego e ladrão, palavras que ouvi um dia;
Sentia o mau cheiro dos vãos, das vielas que se contorciam, o esgoto a céu aberto, quase levou minha ousadia, e minha dedicação, em lutar pelo que eu queria;
Ainda criança cheguei em um orfanato, a minha mãe muito me queria, mas, vivíamos uma vida de cão,eu uma boca que não produzia;
Não conseguia afugentar a escuridão, e galgar os sonhos que um dia, sentindo o meu coração, acreditei que alí chegaria;
A minha vida mudou quando então, fui adotado,orfão sem visão, é a sobra dos nãos que ouvia, um casal de alemão, lá das terras que eu não conhecia, enxergaram o meu coração, sentiram minha valentia, em ainda inspirar esperança, mesmo em uma vida que eu só o nada tinha;
Fui bem criado e educado, fiz cursos de braile, eu já lia, as letras que tocava com as mãos, as guardava para sempre, pois, sabia, que era minha salvação, o único meio, minha alegria, provar que não sou o ladrão, das frases que ouvi um dia, quando maior era a escuridão, quando ter metas eu não podia;
Voltei para o Brasil com formação, era médico, fiz pediatria, fui visitar a favela que um dia, sepultei minha infância misturada, com as cinzas das noites mais frias,família não encontrei, minhas raízes não tiveram o meu destino,resolvi apagar o meu passado,porém, a minha tristeza foi mais forte, quando saindo dos becos e vielas,ouvi um policial berrando, exclamando a alguns pixotes, a mesma frase que ouvi um dia, que ali da periferia, eles só sairiam, em um lindo terno de madeira, ou presídio se tiverem sorte;
Percebi alí neste dia, que eu ser médico não curaria, as mazelas das mentes perversas, essa grande epidemia,chamada preconceito, que já me contaminou um dia,eu mesmo nascendo tão pobre, sem rumo, e sem enxergar o meu norte, provei que caráter não se define, em barracos, ou em periferias que se more, odiosas frases que ouvi um dia, me incentivaram a ser sempre forte, um pobre na escuridão,driblando os caminhos sem sorte.
Dedico esta poesia, a Alcides do Nascimento, menino pobre da favela do Recife, que com esforço sobre humano lutou contra sua pouca sorte, passou no primeiro lugar no curso de Ciências Biomédicas da UFPE,e que prestes a se formar,no dia 06 de fevereiro de 2010 foi brutalmente assasinado dentro do barraco onde vivia com a sua mãe, foi confundido com um ladrão procurado, deixando aqui um grande legado, que independente de nossa condição, se pode vencer nesse mundo cão.
Driblando Os Caminhos Sem Sorte
Não tenho o dom da visão, e nasci na periferia, tateava com a palma da mão, uma vida que eu não sentia, a minha astuta audição, aumentou a minha agonia, pobre, cego e ladrão, palavras que ouvi um dia;
Sentia o mau cheiro dos vãos, das vielas que se contorciam, o esgoto a céu aberto, quase levou minha ousadia, e minha dedicação, em lutar pelo que eu queria;
Ainda criança cheguei em um orfanato, a minha mãe muito me queria, mas, vivíamos uma vida de cão,eu uma boca que não produzia;
Não conseguia afugentar a escuridão, e galgar os sonhos que um dia, sentindo o meu coração, acreditei que alí chegaria;
A minha vida mudou quando então, fui adotado,orfão sem visão, é a sobra dos nãos que ouvia, um casal de alemão, lá das terras que eu não conhecia, enxergaram o meu coração, sentiram minha valentia, em ainda inspirar esperança, mesmo em uma vida que eu só o nada tinha;
Fui bem criado e educado, fiz cursos de braile, eu já lia, as letras que tocava com as mãos, as guardava para sempre, pois, sabia, que era minha salvação, o único meio, minha alegria, provar que não sou o ladrão, das frases que ouvi um dia, quando maior era a escuridão, quando ter metas eu não podia;
Voltei para o Brasil com formação, era médico, fiz pediatria, fui visitar a favela que um dia, sepultei minha infância misturada, com as cinzas das noites mais frias,família não encontrei, minhas raízes não tiveram o meu destino,resolvi apagar o meu passado,porém, a minha tristeza foi mais forte, quando saindo dos becos e vielas,ouvi um policial berrando, exclamando a alguns pixotes, a mesma frase que ouvi um dia, que ali da periferia, eles só sairiam, em um lindo terno de madeira, ou presídio se tiverem sorte;
Percebi alí neste dia, que eu ser médico não curaria, as mazelas das mentes perversas, essa grande epidemia,chamada preconceito, que já me contaminou um dia,eu mesmo nascendo tão pobre, sem rumo, e sem enxergar o meu norte, provei que caráter não se define, em barracos, ou em periferias que se more, odiosas frases que ouvi um dia, me incentivaram a ser sempre forte, um pobre na escuridão,driblando os caminhos sem sorte.
Dedico esta poesia, a Alcides do Nascimento, menino pobre da favela do Recife, que com esforço sobre humano lutou contra sua pouca sorte, passou no primeiro lugar no curso de Ciências Biomédicas da UFPE,e que prestes a se formar,no dia 06 de fevereiro de 2010 foi brutalmente assasinado dentro do barraco onde vivia com a sua mãe, foi confundido com um ladrão procurado, deixando aqui um grande legado, que independente de nossa condição, se pode vencer nesse mundo cão.