As Meninas da Etiópia

Uma etíope aos oito anos de idade
Forçada ao casamento prematuro
Despede-se dos pais sem mais vê-los...
Sem apelos, aos treze, sem puberdade
Tem como prêmio um nascituro
Incubado nas entranhas, retirado a relhos.


São mais de cem, mil meninas à esmo
Indigentes, inda sem intimidade no corpo
Incubadas na sua relação dilacerante
Amantes e não amadas, presas dum mesmo
Ignóbil, flato por carne fresca, um corvo
Que dilacera e masca um corpo infante.


Com as entranhas em frangalhos
Em farrapos, lá se vão à Adis Abeba
Mais um feto foi arrancado às pressas
E essas coitadas, que carregam chocalhos
Ao expelir um natimorto, no pasto, na gleba
Ganham fístulas e morrem ré confessas.


Fístula genital ou retal, não importa
Morta por dentro e por fora, chora
Por cima e por baixo... o ser escorraçado
Dos campos, aliado da fome, exorta
À morte que a leve para longe donde mora
Que carregue sua dor, pintada no corpo destroçado
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Ubirajara Sá
Enviado por Ubirajara Sá em 01/06/2010
Reeditado em 21/05/2016
Código do texto: T2292955
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