INDIGNAÇÃO (1º ATO)

Vide a esfera, que vos vira fera,

Vide os caminhos, os arbustos da floresta,

Vide o grilo, em cima de suas terras,

Vide o político em vias de riqueza, e o povo em guerra,

Guerra de fome, guerra de paz, guerra de silêncio moral,

Litígios para que?

Não temos o que comer, muito menos de beber,

Beber conhecimento, embriagar-se a todo momento,

Viajar nesta bóia, conviver com este tormento,

Vide mais uma vez, o que fazemos,

O que vivemos e o por quem, ou o que morremos,

Morremos indigentes, morremos sem ser gente,

A margem do que ocorre aos ventos,

A margem do social, do império fatal,

Que nos vicia e nos dá sofrimento,

Talvez estejamos certos, sem ser descobertos,

Sendo os espertos, nos escondendo nos velcros,

Velcros da falta do indignar-se, amarrados à falta da coragem,

De doar sangue a uma causa, contra esta farsa,

Farsa bem falsa, bem farta e nada casta,

Vive cidadão, vive com a sua solidão,

Vive em seu ostracismo, procura o seu exílio,

Porque se viveres da forma como deveria,

Ao menos saberia que tudo o que podia,

Agora não mais se sustentaria,

Outrora sua patifaria não mais teria lugar,

Não se sobressaíra de sua crítica voraz,

Vive cidadão, vive direito, com mais respeito,

Com mais intenso, com mais ação,

Larga-te este vício, saia deste convívio confortável, tão em vão,

Joga-te abaixo do muro, joga-te neste mar profundo,

Da vossa indignação,

Por quem passa fome ao teu lado, por quem te chama enjaulado,

Com os pés descalços, enfermos do chão,

Indigna-se da alma, usa tua mente e o seu coração,

Briga-te pela verdadeira democracia, nossa utopia,

Esconjura-te desta agonia, desta fobia e de vossa mansidão,

Mesmo que paguemos com a vida, que ela pelo menos sirva,

Desta explosão, desta exaustão, avante cidadão!

Espero-te naquela avenida, naquela rua, com faixas na mão,

Cobre e seja insolente, a quem mente pra gente,

Quem nos furta a semente, a saúde e a educação,

Furta-se o nascer, o viver, o conviver e até o nosso amanhecer,

Furtar-te também o seu prazer, o seu poder e o seu “se vender”.

Por que eles se vendem?

Pois se vivessem o que vivemos,

Certamente deixariam de serem pelegos e pequenos,

Enquanto há gente com pires na mão,

Com fome de educação,

E de pau-a-pique nas mãos,

Enquanto vós estais apáticos, sem erguer os braços

Com olhos abertos no fechado,

Submersos no alienado e rentes ao chão.

Diego Fonseca Dantas

29.01.2010

Diego Fonseca Dantas
Enviado por Diego Fonseca Dantas em 22/05/2010
Código do texto: T2273012
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