sem roupas, cem roupas, cem calçados e sem calçados em 100 versos
Um guarda roupa
Com cem peças de roupas?
Nossa! Que luxo!
Tão padecido fica o bucho.
Nossa! Aquilo é um casal sem roupas?
Puxa! Que belas popas!
Que cena de tanta pureza!
Assim, tão bela e pura é a natureza.
Quem primeiro habitou este tropical País?
Eles andavam nus e nunca precisaram ir à um juiz.
Os europeus, vestidos com um falso pudor, quando aqui chegaram,
A beleza e a pureza de nossos índios, logo ofuscaram.
Nossa! Como pude esquecer?
E a indústria têxtil, o que iria vender
Se andássemos tal como os nossos primeiros habitantes,
Todo mundo nu, com respeito e moral, todos elegantes?
Mas agora eu vejo
Porque tanto pejo.
Nós somos os acionistas majoritários
Dos ricos empresários.
A Europa, os próprios europeus devastaram...
Depois, com um nefasto pudor, pelo mundo se lançaram,
Onde quer que chegassem, chegava junto a aculturação.
Com o avançar dos tempos, só se via uma trágica desolação.
Outra coisa que nos impede de viver com nudez,
São as semanas "fashions". Que desfaçatez!
"Fashions" BH, São Paulo, Rio, New York, Paris, Milão...
E os estilistas e modelos seguem ganhando dinheiro de montão!
É cada lançamento que aparece
Que eu não sei como tem gente que ainda enaltece.
Eu? Lançava tudo no fogo
E mudava a regra do jogo:
O "glamour", o "fashion" desde agora,
A começar nesta exata hora,
É o "fashion" nu. Sem calçados, sem roupas.
É melhor do que cem calçados e do que cem roupas.
O que é melhor?
O que é pior?
Ser um índio peladão
Ou ser um político ladrão?
Outra indústria poderosa,
Também de "glamour" e de necessidade duvidosa,
É a indústria dos calçados.
Porque não andar na humildade dos pés descalços,
Com os pés no chão,
Fazendo com a Mãe Terra, uma sagrada conexão?
Nunca com cem calçados nem com cem roupas,
Sempre sem calçados, sempre sem roupas.
Alguém nasce com roupa?
Ou até mesmo com um fiasco de estopa?
Será que se após o nu nascimento,
Continuássemos nus, haveria tanto detrimento?
Prefiro ser um ser sem roupas, sem calçados e sem nenhum pudor,
Do que ser um ser com cem roupas, cem calçados e com total odor.
O que há sob a roupa d'um corpo feminino?
O que há sob a roupa d'um corpo masculino?
Há um corpo lindo!
Tanto para a menina e para o menino,
Há um corpo estilizado,
Há um corpo/templo sagrado.
Se todos sabemos o que há
Sob a roupa masculina e feminina, porque o corpo/templo tapar?
Seios! Nádegas! Pênis! Vagina!
Há algum pecado ou feiura nestes órgãos, que a cada um determina?
Do ascendente pueril
Ao decadente senil,
Não deveria haver nenhuma discriminação.
A pureza e o respeito não tem idade. A pureza precisa de roupa? Não.
Será que se andássemos todos nus,
Não faríamos jus
A viver sob um novo tempo de amor,
Sob a pureza e o respeito de um ex pudor?
Sem roupas é melhor!
Cem roupas é pior!
Deixo aqui registrado
O meu desejo despudorado:
Por favor! Me enterrem todo pelado.
Coloquem sobre meu corpo, uma de cada lado,
As Bandeiras do meu coração,
A Bandeira do meu Amado Brasil e a do meu Querido Mengão.
Senão, ficarei com muito calor.
Nossa! Que funesto horror!
Eu! Com cem roupas num caixão.
Eu quero ir sem roupas, nu, pro caixão.
Por favor! Que ninguém insista e nem tenha a ousadia
De me vestir, no meu derradeiro dia.
Serei um defunto anarquista, um cadáver nudista,
Serei um morto vanguardista.
Pra que sentimento tão pútrido?
Eu não quero ser enterrado vestido.
Nu, a Mãe Terra me trouxe à este mundão,
Ao seio da Mãe Terra, eu quero voltar todo peladão
Depois que eu falecer.
Apenas isto é o que quero ter:
Um corpo sem calçados e sem roupas.
Um ser, um espírito, não precisa de cem calçados nem de cem roupas.
Um corpo nu, sem roupas e sem calçados,
Não precisa de cem roupas e de cem calçados.
O espírito desnudo e livre, não usa
Nada "made in" China, "made in" Japan, "made in" USA...
Usa-se o "made in Natura"
Toda criatura,
Pura e livre.
Deus me livre
Desta visão de sempre ter
Em detrimento do Ser.
Ao fashion desnudo das almas,
Uma relevante salva de palmas...