Moribundo

Descaso ao meu verso

tanto abraço e nada causa?

Apenas o descanso do moribundo,

que deita em amassada folha

sonhando com filé de frango, cobertor e um teto.

Abraço o moribundo

no seu mundo traço um verso,

de pranto e injustiça;

verso gritado, com nó na garganta

declamo sem descanso o verso engasgado.

Descaso eu fiz

ao sonhador moribundo,

primeira estrofe egoísta

versos não enchem barriga,

mas denunciam a dor e o fracasso.

Dentro desse compasso

salta aos olhos o moribundo,

acorda e lê os meus versos,

declama-o com sorrisos na boca,

poucos versos de amor eterno.

Transeuntes passam,

ouvem o moribundo e aplaudem,

ele canta com emoção;

ganha uns trocados nas mãos,

versos meus lhe deram o pão.

Hoje vive na pensão

sempre com papel na mão,

escreve versos e canção;

já tem teto e cobertor

e come frango com feijão.

Cantador nas praças,

nas ruas e avenidas;

todos conhecem os versos

do moribundo José

que passa os dias com a poesia.

Meus versos abraçaram José

que um dia na folha amassada dormia,

sonhou palavras sem saber,

acordou em sintonia

Leu meus versos - agora é poesia.