DEPRESSÃO- DOENÇA DA HORA

Entrou no consultório de um especialista.

Apreensiva, nervosa, pois de médico não gostava.

Pra não esquecer nadinha, dentro da bolsa,

Preparara uma lista.

Os sintomas eram muitos.

Sabia,tinha certeza: seu coração ia enfartar.

Dor no peito, palpitação,

Tontura, enjôo, inchação,

Cansaço, pressão quase no dezoitão.

Dor que andava e até comichão,

Dormência nos pés e nas mãos.

Insônia, apreensão...

Lista grande, senhora!

Sim, doutor, mas ai não tem tudo, não.

É que minha cabeça tá meio oca.

Ele deu um sorriso leve,

Desses de doutor particular.

Mandou que a paciente fosse preparada

Para fazer os exames de praxe.

Feito o eletro, aferida a pressão.

Essa estava alta,

Quanto ao coração...

Ficasse despreocupada, pois...

Não tinha nada, não.

Depois que voltou à sala,

Com surpresa ouviu do médico:

O que a senhora tem, é a doença do século.

Doença do quê, doutor? Perguntou aperreada.

É, senhora - respondeu o doutor, a doença da hora.

Pois de cem pacientes que chegam

Com sintomas iguais aos seus,

Oitenta por cento sofrendo estão,

É da doença da moda: Depressão.

Mas doutor, eu estou com essa mazela?

Sim, tenho certeza, minha senhora.

Ouça-me então.

Vou lhe fazer mais perguntas,

Para tirar qualquer dúvida. Veja então:

A senhora tem sentido tristeza?

Está apática, sem motivação?

A memória está fraca? Tem chorado?

Chorado muito, e sem razão?

Doutor, pra falar a verdade,

Tudo isso tenho sentido.

Quanto às lágrimas... Ah, as lágrimas!

Nisso o senhor errou.

As lágrimas já não existem. Elas se foram...

Secaram, para sempre... O poço secou.

Ione Sak
Enviado por Ione Sak em 26/04/2010
Reeditado em 27/04/2010
Código do texto: T2220971
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.