E, A LUA FICOU TRISTE...
Já é noite...
A lua estende o lençol branco
Sobre os telhados;
Telhados... Verdadeiros edredons de barro,
A aquecer famílias inteiras,
Amados e amantes,
E, corpos solitários.
Já e noite...
A lua estende o lençol branco
Sobre as camas feitas de papelão,
Por pessoas que já não mais sonham com teto,
Mas, torcem pelo dono da loja,
Para que este consiga reformar a laje fria.
Já é noite.
A lua, como criança, sopra as nuvens de algodão,
Tentando entreter ainda mais as crianças que brincam na praça,
Enquanto seus pais conversam sobre o projeto da nova casa,
Num condomínio fechado.
Já é noite,
A lua continua a soprar as nuvens de algodão,
E, entre um sopro e outro,
Pisca, tentando fazer sorrir a criança que chora,
Deitada sobre a calçada, a sentir fome...
Enquanto seus pais fumam o cachimbo de crack.
Já é noite,
A lua estende o lençol,
Mas ela mesma... Não consegue dormir.
Deixa de soprar as nuvens de algodão.
Faz-se triste e deita de bruços,
A contemplar a criança que dorme,
Sob os ultimos soluços... Sobre uma cama de papelão.
18/04/2010