CABRA-CEGA
Jogue-se de olhos vendados
Adivinhe quem está do seu lado
Finja conhecer sem ver
Finja até esquecer
Que o jogo já vem acabado
Perdido
Uma cabra-cega na beira do penhasco
Confiante e andando
Adiante, cantando
Ignorante da regra maior
Da rede da dor
Que só a quer chorando
Ajoelhe-se de olhos vendados
Perceba os punhos amarrados
Atinja metas sem querer
Cresça sem saber
Que os jogos já vêm quebrados
Que os olhos já vêem furados
Distorcidos
Uma criança rebelde na beira do penhasco
Saltitante e gritando
Sorridente, correndo
Carente, sofrendo
Inocente, escondendo
A dor que dizem ser melhor
A cegueira que vem se estabelecendo
A cabra-cega da vida
Com a barriga doendo