Propagas
Eu percebo que sua atitude me retalha,
Mas minha situação não impede que eu aceite,
O gentil gesto, no resto de tuas migalhas,
Mesmo que o seu olhar ainda me rejeite...
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Eu bem que queria agora um cigarro,
Um pito apenas, para esquecer o despojo,
Comendo de teu lixo, sei que pareço bizarro,
Isso se percebe, na sua cara de nojo...
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Pois às vezes me negas o que tens sobrando,
Preferindo jogar ao lixo, para que eu não possa juntar,
E quando o reviro, lá está seu olhar me desdenhando,
Mas te peço perdão, pois preciso me alimentar...
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Por que a dor da fome ridiculariza o homem,
Que perde o orgulho, ao ter que mendigar,
Pois até a vergonha e a hombridade somem,
Nestes retratos, que ninguém gosta de enxergar...
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Estou nas ruas, mas ainda não me encontrei,
Pois há muito tempo, eu me perdi no mundo,
Sei que até num trapo, eu me transformei,
Mas o pior é ainda ser taxado como vagabundo...
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Pois saiba que junto ás latas que tu joga nas ruas,
Também colho todo o papelão jogado pelos becos
E o pouco que ganho, é das sujeiras suas,
E não pense que eu não chore, por ter os olhos secos...
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Você não pensou, que talvez me faltara a oportunidade,
E não analisou, se sou ao menos sou inteligente
Só porque para seus padrões, estou fora da conformidade,
Pareço humano, mas para você nem todo humano é gente...
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Não te importa que me falte teto, se está chovendo,
Se as ruas se alagam, e ratos saem dos bueiros
Não te importas ao me ver aos poucos morrendo,
Mas eu tento lutar, e para viver encontro meus meios...
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Eu sei que o pão é sagrado, assim como é a semente
O homem também deveria, sendo ele a imagem de Deus
Mas mesmo assim, sinto-me por vezes impotente,
Ao ter que mendigar diante os olhos teus...