Necrópole
Se o Brasil não fosse um país tão filho da puta
Não sonharia em metralhar viatura
A bala da ponto 40 alojada na nuca
É o martelo do tribunal de rua
Tento refletir em meio ao morticínio
Por que será que político não sofre exílio
Abracadabra some os milhões do cofre
Ocorrência que abre precedente para as mortes
É cruel Vossa Excelência numa sabatina
Querendo apagar incêndio com gasolina
Gambé da coronhada com o dedo no gatilho
Mais uma prova incontestável do sistema falido
Células decompositoras trabalham arduamente
Na guerra do tráfico de entorpecentes
Na péssima índole do Tobias de Aguiar
Sedento de sangue pronto pra disparar
A pele pálida e gélida é o emblema do Brasil
Cadáveres, ossada no solo hostil
Por isso caminho contra o vento no inverno
Pra ir me acostumando ao frio do necrotério
Pra necrópole o político carimba o passaporte
Conselheiro vitalício da agremiação da morte
No IML tem pulmão com nicotina e alcatrão
Sua indústria do cigarro é pra financiar caixão
Seu tapete persa, seu Sportage
Sua diária no hotel na Oscar Freire
Apóio a reimplantação de Buchenwald
Só que com você lá tomando choque no saco
Pela sua obsessão pelos cifrões
Não daria pra gastar nem em cinco gerações
Aqui é foda, é neurose descontrolada
Pente cheio, ódio na mente, enterro que não acaba
Tem rosto desfigurado, morte precoce
Holocausto, genocídio desde 39
Não é descartável tomar tiro de 9 cromada
Sem UTI, sem dinheiro pra comprar vaga
Autoridades ignoram o corpo no esgoto
Gambé é condecorado pelo olho fora do rosto
O corpo sob a cruz é empreendedorismo
A farda cinza é sócia do sadismo
Por isso caminho contra o vento no inverno
Pra ir me acostumando ao frio do necrotério
Pra necrópole o político carimba o passaporte
Conselheiro vitalício da agremiação da morte
É inconcebível viver num ambiente inóspito
O cartão postal esconde um número exorbitante de óbitos
O tráfico passando pelo aeroporto
Mula com cápsula de coca no estômago
Homicídio duplamente qualificado
Um boy com tiro na testa e um braço decepado
Aí não tem jacuzzi com piso de ouro
Não vai gastar 20 mil com corrente pro cachorro
O povo não utiliza Abet, Medial
O parlamentar tem reembolso integral
Bancado diariamente pelo povo
As vezes não tem inalação porque faltou soro
O playboy sonha em pisar na lua
Mas toma tiro se sair com Maranello na rua
Não é de hoje que o dito cujo do Planalto
É um excelente agente funerário
O corpo entre pneus é mais um crematório
Tem outro fora da gaveta sem direito a velório
Por isso caminho contra o vento no inverno
Pra ir me acostumando ao frio do necrotério
Pra necrópole o político carimba o passaporte
Conselheiro vitalício da agremiação da morte