O HOMEM E A SECA

O HOMEM E A SECA

Paulo Gondim

28/03/2010

Lavra-se a terra, mas nada se tira

Escava-se o chão, desperta-se a ira

Abre-se a cova, sob um sol em pira

Semente não nasce e o homem suspira

O filho chora como fome

O sol queima o resto da fé

A escassez tudo consome

A chuva se esconde, foge a esperança

Nenhuma espiga, nenhuma batata,

Só a terra seca se apresenta farta

A barriga ronca, as tripas afinam

O céu azulado, assim, não tem jeito

A chuva não vem, não se Lavra o eito

Dispensa vazia, fogão apagado

Um filho pequeno, num canto calado

De olhos tão fundos, corpo “esqueletado”

O ventre crescido, joelhos dobrados

E a fome maldita tem todos tomados

E o homem, antes, forte, já desesperado

Olha para terra, seu berço sagrado

Que não quer deixar, mas se vê forçado

Pergunta-se a si: não muda, é castigo

E pensa consigo, está tudo acabado...

É a praga da seca, prenúncio do mal

A ninguém perdoa, idoso ou criança

Não faz distinção de classe social

E sem ter saída, o homem em andança

Deixa sua terra, se põe a fugir

Não há mais espera, não sabe aonde ir,

Morreu a esperança, nada mais resta ali

A seca, sem dó, volta tudo ao pó

E no caminhar, vêm muitos atrás

Tudo ali ficou, os sonhos, os risos

Tudo estorricou, só se vê prejuízos

Até o chorar é um choro seco

No rastro da fome, muitos já se vão

Em cima da morte, em busca da sorte

Num resto de vida, à procura do pão

E só vão os homens, as mulheres ficam

Viúvas da seca, de maridos vivos

Só elas com os filhos, cada um mais franzino

É assim sua sina, é assim seu destino

E quem parte da terra, em busca de achar

Ao menos comida para fome matar

Se atira no mundo, sem nada no bolso

Sem nada no bucho, sem nada na mão

A seca terrível, que assola o sertão

Expulsa o roceiro sem nada levar

Somente a esperança de um dia voltar.