Lixo do futuro
Sou candidato à mendigo do Viaduto do Chá
A meter faca na guela do gerente de RH
A combater o crime através dele mesmo
Colocando naftalina no vinho do banqueiro
Por toca preta e saquear a Marabraz
Ser veterano de guerra lustrando minha Famas
Porque a fome não causa apenas dor no estômago
Resulta no executivo com perfuração no esôfago
No dia a dia o pacifismo é oprimido
A bala da Pt atravessa o crucifixo
Mordaça na compaixão, o boy ta risonho
Na instituição destruidora de sonhos
O futuro é reprimido no presente
Tem disparo no peito por uma par de tênis
O 171 com alto requinte
Já não assusta telespectadores e ouvintes
Farei a alegria de empresários e sócios
Quando desenterrarem meu tecido ósseo
Serei mais um entre milhões de lixos no futuro
Serei apenas objeto de estudo
Lixo do futuro
Minha vida vale menos que um Fusca 74
Equipado com maconha dando fuga do Demacro
To ligado que ce quer rasgar minha pele
Pro seu gabinete, pra servir de carpete
O Estado não garante bom atendimento
Óculos escuros, roupa preta porque não tem convênio
Criança com escorbuto, dengue, gengivite
Dente sem Colgate, boca sem Listerine
O meu corpo burocraticamente velado
Pra Microsoft é um PC a menos a ser utilizado
Pra Ambev é um a menos pra ficar embriagado
Pro SPC é menos um endividado
Meu povo toma leite com sal e citrato
Que só maquiam o procedimento inadequado
A maioria não fica a par da avaliação da Anvisa
É igual a um corpo retirado pra perícia
Pra aquisição do meu só falta a firma reconhecida
A faculdade de medicina ficará bem servida
Estarei a sete palmos, tipo um fóssil
Até ser encontrado por arqueólogos
Lixo do futuro
Sou candidato a ganhar o prêmio Nobel do crime
A me manifestar no palanque ostentando uma AR 15
Queimadura de 3º grau no corpo de PM
O ladrão riscou fósforo e jogou querosene
Fui eleito porta voz do delito regente
Fazendo alusão ao lixo orgânico do presente
Do mensalão a CPI dos Correios
Do sanguessuga a absolvição do Calheiros
O mínimo que eu faço é enquadrar gambé da ROTA
Pra servir o herdeiro do boy na feira livre de droga
A benevolência foi coberta pela cortina de fumaça
O ódio jogou granada, serenidade esquartejada
O aparato marginal incita o pesadelo
Sai do local do crime sem deixar um fio de cabelo
Serei identificado com meu rosto em 3D
Ou amarrado numa cadeira no DP
Vingarei a honra do escravo sem digital
Armando artefato no Banco Central
Não serei tema de debate num fórum
Apenas terei meus ossos jogados num depósito
Lixo do futuro