Só nos resta juntar os cacos

Não queria o confronto com o Hamas de farda cinza

Ação ostensiva com a patente da Palestina

Somos tão atacados quanto Israel

Diariamente alvos móveis da Imbel

Tudo isso é plano perspicaz do parlamento

A Carta Magna é ignorada pelos próprios membros

Desejo veementemente a deportação dos mesmos

Porque a felicidade está como granada em fragmentos

É antiga a eloqüência do cinismo

Fazemos parte do show de ventriloquismo

Que tem na raiz a educação estagnada

Analfabetismo, progressão continuada

Não poupam o coração do proletário

Que pagou os 30 desfibriladores do Senado

Eles me querem na UTI visitando parente

Com tiro da polícia, ferido gravemente

Sonham comigo associado a quadrilha

Pro GOE e pra ROTA dizimarem minha família

Com a mina desesperada prestes a ter um filho

Vende pra alguém ou joga no caminhão de lixo

Esse é o incentivo pra seguir minha carreira

Catar o castelo de Caras ou do Edimar Moreira

Orgulho destroçado, acabou a paz

A segurança é um elefante numa loja de cristais

Só nos resta juntar os cacos

Honra estilhaçada, futuro esmigalhado

Só nos resta juntar os cacos

Tentar erguer a cabeça depois do assalto do Planalto

Não queria me rebaixar batendo carteira

Na 25 de Março ou na Santa Ifigênia

Passar pelo Manicômio Judiciário

Ouvir o comentário ladrão bom é ladrão finado

O crime te incentiva a instalar chupa cabra

Clonagem de cartão, lucro na agência bancária

Ou ser acusado no exame residuográfico

Condenado por ser o autor do disparo

O instinto homicida do chefe de polícia

Inevitável analogia com o líder nazista

E quem me explica a não contabilização

Do Senhor Agaciel em relação a mansão

A marola do presidente ta só no Palácio

Aqui a maré alta derruba vários barracos

Arrasta sofá, geladeira, fogão

O Governo não paga o restante da prestação

Só me fornece a uzi e a balança de precisão

O fogueteiro, o vapor e o pessoal da indolação

A droga que foi apreendida pelo doutor

Que só queima metade no incinerador

Eu prospero com emprego e curso pra família

E não com um programa assistencialista

Por isso invado o condomínio de Famas

Pra reconstituir Eldorado dos Carajás

Só nos resta juntar os cacos

Honra estilhaçada, futuro esmigalhado

Só nos resta juntar os cacos

Tentar erguer a cabeça depois do assalto do Planalto

Não queria o meu povo passando humilhação

Apanhando de gambé na desapropriação

Te convidam a morar na sarjeta

Depois vão tomar vinho num restaurante em Moema

Parabenizo o Sarney pelo combate ao desemprego

Só não trabalho porque não tenho grau de parentesco

Me fala o que é mais esdrúxulo, ridículo

Usar ato secreto pra nepotismo

Eles me querem costurado no IML

Vítima de uma das experiências do Mengele

Eu só quero alojar um projétil de G3

No seu crânio, PS do Sírio Libanês

Por deixar o menino na praça da Sé

Cheirando cola no saco de Café Pelé

O mano embaixo da ponte com sua filha

Tomando sopa na caixa de leite longa vida

Não é preciso cientista político pra conferir

Que o Grande Salto do Mao Tse Tung chegou aqui

Se tivesse vivo veria o Brasil por inteiro

Citaria o mensalão no Livro Vermelho

O reconhecimento tardio dos pizzaiolos

Pro povo já não serve de consolo

Até as preces no Muro das Lamentações

Já foram engolidas pelos cifrões

Só nos resta juntar os cacos

Honra estilhaçada, futuro esmigalhado

Só nos resta juntar os cacos

Tentar erguer a cabeça depois do assalto do Planalto

Denis Hacebe
Enviado por Denis Hacebe em 22/03/2010
Reeditado em 26/03/2010
Código do texto: T2153731
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.