Serás mais um

Com sua licença, o rap combativo chegou

Contrariando tudo aquilo que o Papa falou

Transformando a arte em jornalismo imparcial

Apavorando cliente do Hilton sem apontar a fal

A gente rima em cima do sampler da queda social

Aqui o Nixon não faz escuta ilegal

Porque a verdade taí escarrada na nossa cara

Um grito solitário no vale das almas penadas

Ninguem aqui quer pontificação

Beatificação muito menos canonização

Quer pagar as contas, compra mensal no Extra

Ter um sobrando pra dar um rolê no Parque Ibirapuera

Quer a extinção do descaso no hospital

Hoje é gripe amanhã é paciente terminal

Ocasiona na dor da família pelo óbito

Que enfrenta burocracia pra doar os orgãos

A formação de gambé é duvidosa

Não tem psicotécnico pra entrar pra ROTA

Mete marra, intimida a visita

Borra a cueca quando tem rebelião na penita

O puto de colarinho que vê desfile em Milão

Não tem moral pra me chamar de ladrão

Embaixo da lápide é seu lugar

Por não ver que o Apartheid imigrou pra cá

Serás mais um a sentir o ataque verbal

A chama que provoca queimadura de 3º grau

O fogo do inferno é muito pouco

Não adianta se esconder na Granja do Torto

Pra você foda-se quem não tem o que comer

Espera umas 8 horas pra ser atendido no CST

Vê no Home Theater da sua fortaleza

O helicóptero da PM acima de nossas cabeças

Aqui o Big Brother não tem ofurô

Só perfurante na blindagem do Bentley do doutor

Delegado quer ver os elementos no camburão

Gambé vai na favela e volta der rabecão

Antes queria ser atacante do Barcelona

Não meter bala no empresário e cobrir o corpo com uma lona

O Governo me faz meter enquadro na Faria Lima

Enterrou me sonho de ser Hendrix ou Bob Dylan

Edir Macedo só vai rezar quando vir os explosivo

Tiver amarrado na cadeira, vai implorar pra Jesus Cristo

Seu dízimo será confiscado pelo credor

Serás vitima da onisciência do Senhor

O turista vê o Brasil paradisíaco

A fome e a guerra são fatos implícitos

Não importa a época do Carnaval

Filho da puta vem pra tráfico sexual

O vírus ebola ataca no âmbito social

A relação Brasil e África é visceral

Tão quanto com Cisjordânia, Faixa de Gaza

Tão ligados que a Globo é a verdadeira Al Qaeda

Serás mais um a sentir o ataque verbal...

Vai achando que é o tal, que ta sempre certo

Que é a ultima garrafa d’agua do deserto

Da cobertura ce comanda cada palmo da favela

Troca idéia de Nextel com os manos na cela

Deposita a ficha na conta do Judiciário

Pra não ter seus bens bloqueados

Vai na AACD, finge boa ação

Com AK 47 vou anular sua oração

Chupa aqui o fim da escravatura

O tiroteio na senzala é a marca da ferradura

O Brasil colonial, o vergão na sola do pé

Não rende matéria na Istoé

Eu sou o som do mano com jornal amarelo

Da revolta dos presos no teto

Das vítimas de extorsão nos pedágios

Que fazem o viado abastecer seu jato

Do incêndio na favela, da tristeza da família

Da mãe no IML reconhecendo o corpo da filha

Do cinismo dos políticos na cerimônia

Do sofrimento do maluco no microondas

Imagina seu Rolls Royce na periferia

Perceberia que sua promessa não ta em dia

Que sua oração se torne heresia

Sou testemunha ocular de sua covardia

Serás mais um a sentir o ataque verbal...