Quarentena

Vivo num país intranqüilo, sem sono

Onde a ação é trocada pelo suborno

Trabalho, não sou deputado, não recebo abono

Caminho nessa estrada há 25 outonos

As folhas secas preenchem os buracos

Batem na sinalização, material enferrujado

Cobrem pinturas até ontem existentes

Pra muita gente isso é indiferente

A moldura espiritista é inconstitucional

Epidemia global é mensurada pelo caos

Motivos não faltam pra complexidade

De doenças de covardes que causam alarde

Vivem lapidando métodos escusos

Pra não deixarem transparecer seus espíritos obtusos

Nós convivemos com a merda da quarentena

Isolamento na sua forma mais obscena

Maldita quarentena

Epidemia digna de pena

Vivo num país de políticos indolentes

Que alimentam nosso futuro contingente

Sustentam a melancolia, a apatia

Perspectiva de vida sem profilaxia

Habeas Corpus comprado, absolvição

BMW de concessão pra corrupção

Se Deus quiser o inimigo vai sangrar

Amarrado no porão na mira da HK

É evidente a conspiração pra toda a conjuntura

Percebo o resquício da ditadura

Roleta russa com seis balas no tambor

É de sua autoria o quadro do horror

O moleque com cachimbo é a patologia

Da cracolândia que você financia

Sua verba provém da gangrena

Do meu povo anteriormente na quarentena

Maldita quarentena

Epidemia digna de pena

Vivo num país de inescrúpulo irradiante

Onde a imbecilidade é relutante

Divide espaço com o ódio consistente

Que bate de frente com a maldade polivalente

Infelizmente em qualquer âmbito é trivial

E a minha raiva é paralelamente proporcional

Ao descaramento mesmo com alto débito

Com outras figuras decorativas no circo do inquérito

Prestador de serviços, representante intrépido

Ao contrário de você pago imposto, tenho crédito

Lastimavelmente são poucos que se mobilizam

Contra as malditas extorsivas alíquotas

É indignante o alastramento dessa epidemia

Tem médico do SUS cobrando pela cirurgia

Se cada um de nós querer mudar a cena

Erradicaremos a quarentena

Maldita quarentena

Epidemia digna de pena

Denis Hacebe
Enviado por Denis Hacebe em 20/03/2010
Reeditado em 01/08/2011
Código do texto: T2148384
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