A inflação da vida

A vida perde o valor

E tem que passar mais rápida.

As crianças envelhecem

Bem antes de chegar aos trinta.

Crianças em tudo prematuras,

Em tudo imaturas,

Dormem pelas calçadas

Enroladas em papelões.

Seu tempo corre mais rápido,

Já nascem desempregadas,

Fazem sexo aos oito ou dez,

Aos doze são prostitutas,

Aos quinze assaltantes,

Ou cavalo, pombo correio, mastim.

Aos vinte já são defuntas,

Almas tristes, revoltadas,

Que se evolam do mundo

Sem terem experimentado a vida.

Ou será que é isso a vida?

A única vida,

A única que existe,

A única que podem conhecer.

Uma vida inflacionada,

Das crias, criaturas, crianças,

Que como as tartaruguinhas,

Tentam chegar às águas,

E morrem ao longo das praias,

Sem nunca terem nadado,

E sem conhecer o mar.