Maria de Tal
(Homenagem a tantas Marias esquecidas pelo mundo)



Molhada em lágrimas subiu o morro
Olhou pro céu, contou as estrelas
Não se atreveu a pedir socorro
Escondeu as mazelas, tentou esquecê-las

Guardou sua fome em segredo
Descansou sob um florido arvoredo
Estonteada qual louco bêbado
Vomitou na terra a bílis do medo...

Saiu em busca de alimento para a cria
Estendeu a mão implorando esmola
Seu corpo fraco por migalhas vendia...
Sofria tal qual tangida viola...

Salvar os filhos seu desejo ardente
Colheu migalhas na tosca sacola
E alimentou a cria pálida e doente
Maltrapilha, faminta e sem escola...

Entregou pra Deus a sua sina
E tombou ao som de triste toada
Deixando a cria desamparada.

Seu nome apenas Maria de tal
Sem CPF e desempregada
Negou-lhe a vida o fundamental...