a voz de um palhaço
calem-se as vozes
que mais um palhaço vai falar
sou a pedra em seu sapato
lato, mas não mordo
de cara pintada faço graça
pra essa gente que me aplaude
dentro de um bueiro de desgraça
raça que não enxerga
nem um palmo frente ao nariz
minha casa é um circo
durmo na corda bamba
não sei até quando vivo
metido nessa jaula de enganação
essa lona finge que cai
mas não cai não
tem gente demais na sustentação
e a platéia mente
finge gostar do espetáculo
o pobre faminto doente
que troca sua voz
por tijolo, remédio e pão
muita coisa não sabe
não entende
porque só quer se abrigar
debaixo dessa lona decadente
e ser mais um palhaço
que ri da vida
aplaudido pela platéia sem voz
que pensa escapar da morte
mas é enganada, vendida
entregue a própria sorte