CACHORRAS CANSADAS
CACHORRAS CANSADAS
Após tantas ferozes investidas,
E tentativas frustradas de mordidas,
Sentadas com suas ilhargas inchadas,
Esparramam-se pelas calçadas,
Cachorras cansadas...
Ainda, ontem rosnavam escondidas
Em becos minúsculos distantes,
Podia-se ouvir seus agudos latidos
E o som de pés fugindo de suas mordidas.
Cachorras cansadas...
Hoje, encontram e entregam-se aos restos,
Falam por si seus próprios gestos...
Fêmeas devoradoras, sempre famintas,
Engolem as carnes, deliciam-se em lambidas.
Cachorras cansadas...
Quando chega a fria madrugada,
Algumas lobas ainda insatisfeitas
Vagueiam pelas ruas abandonadas,
Até a despedida dos raios da lua cheia.
Cachorras cansadas...
Em algum lugar secreto de seus instintos
Relembram saudosas, jovens corpos bonitos.
Sentindo o cheiro da presa corriam fogosas,
Para assaltar seus donos e tombálos vitoriosas.
Cachorras cansadas...
Latidos miúdos, baixos, pequenas rosnadas...
Deitadas no chão, olham o vazio
Respiram sofregas, sentem tanto frio.
Saudosas do calor, do verão, do último cio.
Cachorras cansadas