CACHORRAS CANSADAS

CACHORRAS CANSADAS

Após tantas ferozes investidas,

E tentativas frustradas de mordidas,

Sentadas com suas ilhargas inchadas,

Esparramam-se pelas calçadas,

Cachorras cansadas...

Ainda, ontem rosnavam escondidas

Em becos minúsculos distantes,

Podia-se ouvir seus agudos latidos

E o som de pés fugindo de suas mordidas.

Cachorras cansadas...

Hoje, encontram e entregam-se aos restos,

Falam por si seus próprios gestos...

Fêmeas devoradoras, sempre famintas,

Engolem as carnes, deliciam-se em lambidas.

Cachorras cansadas...

Quando chega a fria madrugada,

Algumas lobas ainda insatisfeitas

Vagueiam pelas ruas abandonadas,

Até a despedida dos raios da lua cheia.

Cachorras cansadas...

Em algum lugar secreto de seus instintos

Relembram saudosas, jovens corpos bonitos.

Sentindo o cheiro da presa corriam fogosas,

Para assaltar seus donos e tombálos vitoriosas.

Cachorras cansadas...

Latidos miúdos, baixos, pequenas rosnadas...

Deitadas no chão, olham o vazio

Respiram sofregas, sentem tanto frio.

Saudosas do calor, do verão, do último cio.

Cachorras cansadas

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 20/02/2010
Código do texto: T2097682
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