FOME - ESTE NÃO É UM POEMA DE AMOR
BATEM NA PORTA
UMA VOZ DE CRIANÇA
VEM DE FORA
E AGORA
NESSA HORA
PEDE COMIDA.
BATEM NA PORTA
UMA VOZ DE MULHER
VEM DE FORA
E PEDE COMIDA.
MAIS TARDE
NO OUTRO DIA
VEM MAIS
E MAIS
E SÓ PEDEM
E DIZEM QUE É PRA NÃO ROUBAR
QUE SÃO HONESTOS
QUE NÃO ACHAM TRABALHAM
NÃO ACHAM.
ESTÃO PASSANDO FOME
ESTÃO SOBREVIVENDO
DO NOSSO LIXO SANTO DO DIA
ESTÃO DEBAIXO DAS PONTES.
ISTO É UMA POESIA SOCIAL
SEM RIMA
SEM EMOÇÃO
FRIA
ASSIM FEITO O GOVERNO
QUE GASTA MILHÕES
COM CARNAVAL
COM AVIÕES
COM PROPAGANDAS...
E AINDA HÁ GENTE
SOBREVIVENDO
COM CENTAVOS NAS MÃOS CALEJADAS
COM BARRIGA DOENDO DE FOME
COM A VERGONHA NAS SOMBRAS
PARA PEDIR E NÃO MORRER
NAS MÃOS DO TRÁFICO
QUE PAGA BEM
CRIME ORGANIZADO
NUM SISTEMA DESORGANIZADO.
ESTE É UMA POESIA SEM RIMA
SEM A DOCILIDADE DO ROMANTISMO
ESTOU DE SACO CHEIO
DE OUVIR TODO O DIA
PESSOAS BATENDO NA MINHA PORTA
E NA PORTA DOS VIZINHOS
PEDINDO UM PEDAÇO DE PÃO
UM PRATO DE FEIJÃO.
ONDE ESTÃO AS IGREJAS ?
ONDE ESTÃO AS INSTITUIÇÕES ?
AS PESSOAS DE BOA VONTADE
DA SOCIEDADE
QUE FAZEM FESTAS EM CLUBES SOCIAIS
TIRAM FOTO PRA COLUNAS DE JORNAIS
SE AMOSTRAM COM SORRISOS TOSCOS
E SUAS CARAS HIPÓCRITAS
CHEIAS DE VODCA, UÍSQUE E BANALIDADES.
ESTÃO BATENDO NA MINHA PORTA
DEVE SER UM SER HUMANO PEDINDO
O JANTAR.