FOME - ESTE NÃO É UM POEMA DE AMOR

BATEM NA PORTA

UMA VOZ DE CRIANÇA

VEM DE FORA

E AGORA

NESSA HORA

PEDE COMIDA.

BATEM NA PORTA

UMA VOZ DE MULHER

VEM DE FORA

E PEDE COMIDA.

MAIS TARDE

NO OUTRO DIA

VEM MAIS

E MAIS

E SÓ PEDEM

E DIZEM QUE É PRA NÃO ROUBAR

QUE SÃO HONESTOS

QUE NÃO ACHAM TRABALHAM

NÃO ACHAM.

ESTÃO PASSANDO FOME

ESTÃO SOBREVIVENDO

DO NOSSO LIXO SANTO DO DIA

ESTÃO DEBAIXO DAS PONTES.

ISTO É UMA POESIA SOCIAL

SEM RIMA

SEM EMOÇÃO

FRIA

ASSIM FEITO O GOVERNO

QUE GASTA MILHÕES

COM CARNAVAL

COM AVIÕES

COM PROPAGANDAS...

E AINDA HÁ GENTE

SOBREVIVENDO

COM CENTAVOS NAS MÃOS CALEJADAS

COM BARRIGA DOENDO DE FOME

COM A VERGONHA NAS SOMBRAS

PARA PEDIR E NÃO MORRER

NAS MÃOS DO TRÁFICO

QUE PAGA BEM

CRIME ORGANIZADO

NUM SISTEMA DESORGANIZADO.

ESTE É UMA POESIA SEM RIMA

SEM A DOCILIDADE DO ROMANTISMO

ESTOU DE SACO CHEIO

DE OUVIR TODO O DIA

PESSOAS BATENDO NA MINHA PORTA

E NA PORTA DOS VIZINHOS

PEDINDO UM PEDAÇO DE PÃO

UM PRATO DE FEIJÃO.

ONDE ESTÃO AS IGREJAS ?

ONDE ESTÃO AS INSTITUIÇÕES ?

AS PESSOAS DE BOA VONTADE

DA SOCIEDADE

QUE FAZEM FESTAS EM CLUBES SOCIAIS

TIRAM FOTO PRA COLUNAS DE JORNAIS

SE AMOSTRAM COM SORRISOS TOSCOS

E SUAS CARAS HIPÓCRITAS

CHEIAS DE VODCA, UÍSQUE E BANALIDADES.

ESTÃO BATENDO NA MINHA PORTA

DEVE SER UM SER HUMANO PEDINDO

O JANTAR.

Luciano Cordier Hirs
Enviado por Luciano Cordier Hirs em 17/02/2010
Código do texto: T2092415
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