O LIXO
O LIXO
O lixo se movia para um lado,
Depois o vento soprava para o outro,
O saco ia e rolava do morro para o monte,
Do monte, o vento rolava para o morro,
Morrendo se jogava no morro do monte.
Mas não era só no morro que morria,
No monte se morria muito mais.
Maria morreu amarela no monte.
Maria comia lixo todo santo dia,
E não tinha nem saco de dormi errante,
Mas rolava rango que só rato roia.
No monte de lixo tem ordem e hierarquia,
Que nem gente civilizada tem.
Lá, no meio do monte acre fedia.
Bem no topo, o marfim se abria,
Vez e outra rasgava um saco e comia,
Arrastava as pernas entre os restos
E dos restos vivia e sorria.
Coçava a coceira na doçura
De quem já fora criança um dia.
Assim como Maria, Raimundo crescia,
Sujo, escanifrado, olhos hepáticos, fedia,
De barriga d’água o verme comia,
Um sorriso amarelo de ternura,
Mas não cresceu, raquítico morreu,
As pernas curvas, roto desgraçado,
No barro rude roendo que nem rato roeu.
E no dia seguinte outra Maria apareceu.
Leandro Dumont
06/09/2007