NOSSA GUERRA DO DIA-A-DIA...
Depois a gente se cansa
e decide que não se pode mais morrer.
Morrer de bala certeira chamada de “bala perdida.”
Morrer sem ter feito nada para morrer. Morrer na hora errada!
Depois fica um cheiro de terra molhada
de lágrimas de olhos que choram
seus mortos nesta insana cidade...
Cidade cheia de gente insensata e assassina!
Depois a gente se torna sedados, alheios a tudo,
e, a noite fica enorme, cortada em pedaços
entre um sono e outro, entre um sono e meio...
Melhor trancar o choro no peito
e não ouvir na noite
os tiros que tiram vidas.
Depois, meio sem querer,
fingimos que não vemos, trancamos a porta,
fechamos os nossos olhos, amém!
Depois, bem depois,
vem uma autoridade e diz que foi um fato isolado.
Um fato isolado na nossa real guerra do dia-a-dia!