DESAFETOS *

Olho o rio

E a cidade aos poucos escorre.

Em suas margens sujas

Acumulam-se avarezas.

É um tempo de pasmar

E de ver as areias do rio

Levadas por caminhões

Em estradas de muitas tristezas.

Os corações dos que ficaram

Estão partidos em metades desiguais

Porque a cidade engoliu seus desafetos;

E os batuques se confundem com as buzinas e sirenes de polícia.

E na cela alguém é espancado até a morte.

E contemplo o rio passageiro

Cortando a cidade em metades desiguais

Onde a areia escorre entre os escombros

E os caminhões poluem as estradas sujas

Onde os desafetos espancam até a morte.

* Poema inspirado na reportagem de capa da Revista Caros Amigos, n. 78 de Setembro de 2003.