FATOS E FOTOS
FATOS E FOTOS
Meus olhos fotografam
Cenas sob este céu de anil
Enquanto meus pés
Passeiam pelos quintais do Brasil
Minhas retinas piscam
E ao entrar e sair a luz
Elas eternizam fatos
Em fotos que gravo na memória
E processam a lentidão
Da máquina burocrática
Num rincão de Belém
A luta na fila democrática
Esperando sem fim
Quando será o próximo
Talvez quem sabe no fim do mês
E os doentes esperam
Enquando o câncer corrói devagar
Sim, isto acontece na capital do Pará
Tem aparelho ainda embrulhado
Começando a enferrujar
Mas licença não tem para funcionar
E os pacientes têm que se deslocar
De distantes cidades e sempre a esperar
Enquanto isso temem para sempre se calar.
Em Salvador, ninguém salva a dor
A história é a mesma
E por toda a minha trajetória
O “hard disk” de minha memória
Ficou sem espaço
Enquanto a dor abraço
De saber que o sistema único
Só nos dá SUS to morrendo.
Por entre fatos e fotos
Emperrados em velhos depósitos
Ou novinhos esperando apenas um toque
As histórias se registram
Automaticamente...
Enquanto sou paciente
E espero o dia seguinte
Por algum processo alquímico
As fotos se revelam
Mostrando os fatos
Como velhos retratos amarelados
O tempo passa e tudo continua
Sempre igual.
Minhas retinas se descolam
Secas, sedentas e murchas
Por uma rotina banal
Meus olhos estão embaçados
A visão fora de foco
Só enxergo fantasias, alegorias
Estou no País do Carnaval.