O PAPELEIRO

Mais um dia

Mais uma jornada

E os passos do catador de papelão

rompem o silêncio da madrugada

O asfalto a judiar dos pés,

do corpo e da alma

Corre o animal homem

e de sonhos, veste cada objeto

Imagina a boneca sem braços

ainda tem olhos e a sua menina

a amará assim

a velha panela vazia

fazendo a alegria da mulher

que coserá nela o que o dia apresentar

a retorcida árvore de natal

sem presépio, nem nada

antecipará alegrias, quem sabe

Não lhe coloque no topo

a desbotada estrela

que encontrou um dia desses

E diminua a tristeza dos meninos

que deixam transbordar nas retinas

por que?

por que?

Se não foram maus...

E a mulher que sonha

borbulhas na panela

Por que?

Por que?

Se uniu as mãos em prece

e rogou por saúde e pão...

Movido pelo pensamento

corre o animal homem

e de sonhos, veste cada objeto

No papel sujo amassado

projeta felicidade

Restaura quinquilharias

sonha dignidade

Corre apressado o pobre animal

Atrela esperança ao sonho

Quem sabe não foge de seu destino?

Helena Grecco

02.02.2010