Noites Sujas
Horas escuras
em noites impuras.
Madrugada sombria
em que se morre à revelia.
Lantejoulas coloridas
brilham perdidas.
São paixões mal resolvidas.
Becos sombrios
de bêbados vadios
e gatunos escorregadios.
Becos de apocalipticos sermões
e de putas e cafetões.
Ali o Mal se cristaliza
enquanto a Maldade se realiza.
Suja noite suja,
de sangue da dita cuja.
Mulheres plenas e resolvidas
sonham serem perdidas.
Machos da fauna
vendem a alma
e se dão no vapor da sauna.
Noite de ladinos
escroques andinos.
E de burros cretinos.
Noite de sexo pago,
de discurso de gago
e de saideira no último trago.
Noite de poucos panos
e de tantos danos.
Noites mal assombradas
pela noiva de branco
e pelas almas penadas.
Noites alongadas,
reino da escória!
Vocifera o Homem sem memória.
Noite de bilhares
e de dramas familiares.
Noite de baralhos e de dados
e de tanto azar nos Fados.
Noite de gangues.
De corpos exangues.
Longa noite absurda
em que de nada se cuida.
Noite em que vago.
Noite em que trago
a solidão da pós festa
e a da cama com que se detesta.