ESTRANHA PROCISSÃO

Os desiludidos descem a rua

Cantando, de alma nua,

Que já não teem porque

Tirarem o brevet

Para voar tão alto

E depois

Se esborracharem no asfalto...

Tem os murchos olhos sobre o nariz,

Repetem o refrão, "adeus amor,"

Um foi Rei, outra, Imperatriz,

Na lapela um leva uma flor,

Murcha, cambaia, infeliz...

Nos altos predios pintados de tedio,

Os tristes observam aquela estranha procissão,

Jogam comprimidos de prazer, quiçá remédio,

Um alento àqueles brochados de coração...

Enquanto isso Netuno, desperto, corado,

Lança ondas sobre a cidade encharcada,

Nenhum surfista brinca no tubo irado,

Não há graça nessa enxurrada,

Não há desejos em latas empilhadas,

Apenas um gato, miando, sobre o telhado.