O BAILE DAS QUENGAS
Salões abertos ao relento
Expondo rostos pintados de naturezas mortas
Sorrisos esculpidos pela libido fingida
Gozos e gemidos ensaiados nas calçadas
São buquês de flores corrompidas
A ornamentarem esquinas toscamente venéreas
Onde virgindades tornam-se gratuitas e venais
Debutando neste açougue de mil taras
Em uma Babel de tantas línguas e moedas
Faz-se o lazer do comércio da carne infantil
Prostituíram tuas filhas, Iracema!
Macularam com sangue coalho teus verdes mares
E assim dançam as crianças vendidas
Ao som da cola barata ou da coca adulterada
Ritmando o estupro consentido e mal pago
Com o dinheiro que não cobre o preço do abuso
Antes do crime, eram chamadas meninas
Agora alcunhadas de putas, quengas e vadias
Desfilam pelas ruas como infâncias mutiladas
Em busca da recompensa monetária pelo hediondo ofício
Estrangeiros travestidos de pedófilos
Revelam em fantasias o desejo que há
Nestes tantos carnavais que engenham misérias:
Mascarados saqueadores de inocências
Diante do espelho, surge o retrato da outra
Lapidado sobre o rosto ainda em rascunho
Preparada para mais um baile a jovem quenga
Dançando, com seus pés cortados, sobre os próprios cacos