O BAILE DAS QUENGAS

Salões abertos ao relento

Expondo rostos pintados de naturezas mortas

Sorrisos esculpidos pela libido fingida

Gozos e gemidos ensaiados nas calçadas

São buquês de flores corrompidas

A ornamentarem esquinas toscamente venéreas

Onde virgindades tornam-se gratuitas e venais

Debutando neste açougue de mil taras

Em uma Babel de tantas línguas e moedas

Faz-se o lazer do comércio da carne infantil

Prostituíram tuas filhas, Iracema!

Macularam com sangue coalho teus verdes mares

E assim dançam as crianças vendidas

Ao som da cola barata ou da coca adulterada

Ritmando o estupro consentido e mal pago

Com o dinheiro que não cobre o preço do abuso

Antes do crime, eram chamadas meninas

Agora alcunhadas de putas, quengas e vadias

Desfilam pelas ruas como infâncias mutiladas

Em busca da recompensa monetária pelo hediondo ofício

Estrangeiros travestidos de pedófilos

Revelam em fantasias o desejo que há

Nestes tantos carnavais que engenham misérias:

Mascarados saqueadores de inocências

Diante do espelho, surge o retrato da outra

Lapidado sobre o rosto ainda em rascunho

Preparada para mais um baile a jovem quenga

Dançando, com seus pés cortados, sobre os próprios cacos

EMERSON BRAGA
Enviado por EMERSON BRAGA em 26/01/2010
Código do texto: T2051669
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