UM ANJO SEM ASAS
Nos cabelos piolhos.
Sujo maltrapilho,
Fedendo a urina,
Lá vai o andarilho.
Tem os pés disformes.
Tem unhas enormes.
Tem mãos encardidas.
E nas pernas feridas.
Sem eira nem beira.
Sem identidade.
Sem nome ou origem.
Jamais teve idade.
Foi jovem um dia
Ou criança talvez.
Perdeu a memória
E a lucidez.
Ele fala sozinho.
Solta gargalhada.
Ele come migalhas
E carrega mil tralhas.
Não sabe onde mora.
Não sabe aonde vai.
Logo chega vai embora.
Sem mãe e sem pai.
Quando eu era menina
Alguém me contou
Que um anjo sem asas
À terra voltou.
Percorreu labirintos,
Morou na cidade
Buscando entre os homens
Amor, caridade.
Para mim o andarilho
Sempre expulso das casas.
Sujo e maltrapilho,
É o anjo sem asas.