INDIFERENÇA SOCIAL
Vejo crianças ainda em tenra idade, abandonadas à própria sorte sem, ao menos, sonhar em ser “o futuro do país”, caminhando nas praças da desilusão, nas esquinas do mundo e nos becos sem saída da desonra.
Vi os mais vividos, ditos velhos, entregues ao ocaso no tempo, descaso familiar e abandono social, relegados ao ostracismo de seus sonhos outrora cultivados.
E num relancear constatei que as mulheres continuam vitimadas pela violência sexista originada e parida no seio doméstico, fruto da sanha machista, calcada na truculência do homem de modos patriarcais.
Vejo o rapaz e vi a moça, jovens a sonharem com o futuro promissor e morrerem ainda em tenra idade, vítimas da droga e da falta de políticas públicas voltadas para sua libertação, deixando a vida escapar sem que pudessem senti-la em toda sua vivacidade.
Vejo o ecossistema ameaçado por quem só busca o lucro desordenado em detrimento da ecologia e da Mãe Terra que grita por partição. E ainda querem incutir no consciente coletivo que este processo de degradação é normal e gera riquezas, pois garante desenvolvimento...
Vi que a violência está tão entranhada no tecido social que já se tornou uma rotina ver balas perdidas, filhos serem sepultados pelos pais - quando o contrário é o normal -, menores largados ao relento feitos agentes do crime organizado, meninas-moças oferecerem seus corpos sem feição de mulher por um prato de comida.
Vejo a fome campear por estas e outras terras e levas de famintos na mendicância do pão amassado que cai da mesa dos que, quanto mais têm mais buscam, não se sensibilizam ante os reclamos dos mais sofridos.
Depois de ver tanta coisa, fiquei estupefata, a inquirir se não estamos indiferentes a alguma coisa! Onde estão as relações humanas? Teríamos perdido a capacidade de amar? E a sensibilidade?
Bem sei que tudo não são as flores murchas ou os espinhos que já não ferem. Pude sentir que nem todos estão indiferentes. Eu não sou indiferente!? E tu? Estás indiferente? Pois, caminhemos juntos e levantemos bandeiras comuns e sigamos cantando a mesma cantilena.