aconteceu assim...
Corpo frágil de menina, nove anos,
Vestimentas da escola, nada atrativo.
Homem velho de olhares profanos
Da fragilidade tornaria opressivo!
Nas mesinhas de ardósia, esperava o sino...
Com a inocência de criança inferior,
Sábio, e veloz no raciocínio,
Rondava a espera de ser o único superior.
Ao lado da presa, o caçador,
Com a mão sobre a barba faz discurso de bondoso.
A garota que tinha a fome um fato ameaçador,
Caiu na lábia do cruel caridoso...
Primeira refeição quatro e meia da manhã,próxima só duas da tarde,
Um ser cheio de compaixão,
Saberia que a fome em teu órgão, arde.
Ajudaria com imensa satisfação...
Contando, é claro que ninguém saiba, inclusive seus pais
O ser de coração grandioso era modesto não queria glória.
Repugnante seu jeito descarado, redimia-se de suas brincadeiras imorais.
Agora era alguém que se estendia a uma alma simplória.
As indagações se abafavam com o trocado para o lanche,
Afinal confortava se alimentar,
Mas a surpresa veio com uma revanche,
Quando o preço do lanchinho ele iria cobrar...
Prá tudo tem um preço, já dizia o papai.
Ninguém dá nada para ninguém de graça,
Mas nessas horas quem é que lembra as palavras do pai.
Tudo é lindo até acontecer à desgraça...
- O preço é esse, já está fechado,
- Todos os dias seu corpo será violado!
- Mas, não pode haver um combinado?
- Não, já estou desesperado...
Aceito o pedido, cada dia um pouquinho era desvendado,
De um corpo tão frágil, e uma débil inocência.
Aos nove anos, não parecia que seria meu ser condenado,
Mas veio breve o desfecho pela ciência.
A tristeza passou a ocupar um pedaço da alegria,
Sem saber o que transtornava a mente,
Intimidada por toda aquela ousadia.
Até tornar por completo descontente.
A mãe com seu poder superior descobriu alguma coisa,
Mas com o medo e vergonha foi-lhe negado os fatos,
Precisavam da verdade para desmascarar e prendê-lo.
Somente uma pessoa poderia colocá-lo com os ratos.
Aos nove anos, não imaginava o que colheria,
Pelas mentiras e falta de confissão,
Só hoje dezesseis anos mais tarde a olheira,
Pelas noites perdidas com sua invasão.
A mãe partiu sem saber a verdade,
No peito uma mistura de culpa e desejo de vingança,
Foi cedo tirado a privacidade.
Colocando junto a vida, uma porção de desconfiança.
Sei o poder do perdão,
Acreditei já o ter perdoado,
A mente faz sempre uma alusão,
Deixando o meu ser dilacerado.
Prá Deus já supliquei remissão,
E pedi também para perdoá-lo,
Para proteger as crianças da sua opressão,
E de seus pensamentos e desejos endireitá-lo.