Gente-animal
Pior que a pobreza
Pode ter certeza
É ser gente-animal
É ter que revirar o lixo
Comer igual bicho
Como se fosse normal
E o mundo de consumo
Comida cara, bebida e fumo
Fingir desconhecer esse mal
Desconhecer a essência da humanidade
O âmago da solidariedade
O desprendimento ao material e formal
Ignorar os lixões da vida
O ronco da barriga sem comida
Da invisível gente-animal
Dedico esse poema a Manuel Bandeira
Ilustríssimo ícone da literatura brasileira
Sendo sombra com honra de um poema seu
Que há tempos li e bastante me comoveu
O Bicho é o retrato da suprema hipocrisia humana
Do egoísmo da sociedade que pensa que engana
Fantasia-se de bondosa, mas joga comida fora
E essa comida suja é o bicho-homem quem devora
Que pena um poema tão antigo ser tão atual!
O homem comer a comida do lixo ser ainda usual...