Escravidão
Se passa em passos para um lar distante,
Até os ladrilhos de rubente¹ exclamam.
Presos à lua, à escuridão latente,
Os pés se calam, e as feridas sangram.
Mas se as orgias da maldade espessa,
Ramificarem de tensão sombria,
O alento é calmo – de quem não tem pressa,
Cale-se cego, negro não sorria.
E se desata a chula raivosa,
Os seus desejos, em seu frenesi,
-- é como o céu numa manhã chuvosa --
Prefiro a morte por haraquiri².
Caso o destino seja mais cruel,
Esconda a face com sua marca cálida,
Não num sarcófago e nem mausoléu,
E sim na humilde cápsula – crisálida.
Por fim, se cansa do terror do dia,
Inebriado do trabalho escravo,
Sem ter de apoio nem a mais valia³
Agüenta firme – homem tu és bravo.
Quando a revolta, num pecado brando,
Surge a cada estação do ano,
Com seu desejo de fugir com o bando,
Leva na cara por ser tão humano,
Leva na cara, escravo, por não ter um pano.
1-"rubente" cor do rubi (pedra preciosa).
2-"haraquiri" suicídio japonês em que o indivíduo esfaqueia o ventre.
3-"mais-valia" exploração de cunho capitalista onde o empregador suga,
ao máximo, os serviços prestados pelo empregado retirando muito lucro
encima da pouca remuneração do mesmo.