Escravidão

Se passa em passos para um lar distante,

Até os ladrilhos de rubente¹ exclamam.

Presos à lua, à escuridão latente,

Os pés se calam, e as feridas sangram.

Mas se as orgias da maldade espessa,

Ramificarem de tensão sombria,

O alento é calmo – de quem não tem pressa,

Cale-se cego, negro não sorria.

E se desata a chula raivosa,

Os seus desejos, em seu frenesi,

-- é como o céu numa manhã chuvosa --

Prefiro a morte por haraquiri².

Caso o destino seja mais cruel,

Esconda a face com sua marca cálida,

Não num sarcófago e nem mausoléu,

E sim na humilde cápsula – crisálida.

Por fim, se cansa do terror do dia,

Inebriado do trabalho escravo,

Sem ter de apoio nem a mais valia³

Agüenta firme – homem tu és bravo.

Quando a revolta, num pecado brando,

Surge a cada estação do ano,

Com seu desejo de fugir com o bando,

Leva na cara por ser tão humano,

Leva na cara, escravo, por não ter um pano.

1-"rubente" cor do rubi (pedra preciosa).

2-"haraquiri" suicídio japonês em que o indivíduo esfaqueia o ventre.

3-"mais-valia" exploração de cunho capitalista onde o empregador suga,

ao máximo, os serviços prestados pelo empregado retirando muito lucro

encima da pouca remuneração do mesmo.

Felipe Vasques
Enviado por Felipe Vasques em 18/07/2006
Reeditado em 27/06/2017
Código do texto: T196323
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