MEU FUNERAL

Chuva caindo sobre a madeira,

Posso ouvir passos sobre mim;

Corpo gelado, de face padecida,

Olhares que não mais me atingem;

Ar do qual não me faz falta:

Posso ainda sentir vermes a me comer.

O que sou? Sou nada!

Minha eterna morada,

Ornada com este cheiro fresco de eucalipto,

De lenha fresca de lareira;

Forrado vermelho, detalhes que me cobrem.

Leito onde me sentirei cuidado,

Bem longe, neste vil buraco, escondo-me.

Posso confiar em mim.

E nisso, viverei meu sonho eterno,

Sonho que neste mundo não alcancei,

Amores que neste mundo não desfrutei,

Dores que aqui sempre viverei;

Sentimentos a descobrir-me do paletó,

Doce sabor de minha carne.

Como é bom saber que vivi,

Como não puder entender isso?

Descobri de mim que nada era meu,

Nada na verdade pude levar:

Mesmo até minha carne, deixei;

Morada eterna minha, abandonei.

E todo este cuidado com meu descanso?

Deste não pude vangloriar-me:

Sou como meus vizinhos agora.