Política do Limoeiro
Tem um limoeiro podre no quintal
Tem um limoeiro podre no quintal
Todo o limão que cai dele
fabrica um ácido fatal.
Mas é suco saboroso, que nem parece limão.
É açúcar bem doce, como suco de ilusão.
É um ácido viciante, a máscara bela do mal.
Uma mentira ingerida de modo fraternal.
Mas é um limoeiro podre no quintal.
Tem um limoeiro podre no quintal.
Tem um limoeiro podre no quintal.
Todos que desfrutam de sua sombra
antecipam o seu próprio final.
Mas qual outra sombra eu aceitaria se só há a dele?
Qual a vantagem de se estender no sol e passar sede?
Se o arranco fora, nasce outro afinal.
Não sei o que faço com essa planta infernal.
Esse limoeiro podre no meu quintal.
Tem um limoeiro podre no meu quintal.
Tem um limoeiro podre no meu quintal.
Eu não devia gostar dele, não,
só que mais belo não tem igual.
O suco dissolveu meu cérebro, esse costume infalível.
A cultura da aminésia, livrar-se é quase impossível.
Uma árvore forte e para cortá-la somente uma força tal
que só unindo os vizinhos para arrancar pela raíz o mal.
Para matar o peru logo depois do Natal.
Tem um limoeiro podre no meu quintal.
Tem um limoeiro podre no meu quintal.
Só de pensar no esforço de tirá-lo
eu começo a passar mal.
Já me acostumei tanto com ele, ele e nada é a mesma coisa.
Azedo ou sadio, eu guardo seus limões dentro de casa.
Bebo o veneno todo o dia em um mero ato banal.
Às vezes até esqueço do limoeiro podre do meu quintal.
Mas tem um limoeiro podre no quintal.
Tem um limoeiro podre no nosso quintal.