Cidadão
Graves e agudos
são os sons que me rodeiam.
Fazem de mim
um livre prisioneiro
desta grande cidade.
No cubículo que me sufoca
quatro paredes de concreto
liricamente me dizem
que tenho um apartamento
e devo ser feliz ( muitos têm por teto o viaduto ).
Há um cheiro impregnado
de violência no ar
e meus olhos astutos
desenvolvem diariamente
o senso do perigo.
Esta cidade que não dorme
diz também que exijo demais
quando, mal humorado,
acordo às 4 da madrugada.
Nas linhas Bairro-Centro
sou privilegiado quando pego
com muita sorte, um banco vazio.
Me espremem, me empurram
quase me esfolam
mas não digo nada
e sinto-me terrivelmente bem
quando chego à repartição
VIVO!
Em compensação
o "rush" é sempre melhor.
Tenho a nítida impressão
de que não sofro de solidão.
De volta a casa
vou repousar enfim
numa gaiola deslumbrande
com porteiro, elevador
e que alívio- com grades de segurança
pois, distraído que sou,
talvez quisesse de repente
num sonho tresloucado
voar feito um pássaro sem juízo.