A CRISE TEM SOLUÇÃO
("Traste oferecido não tem valia",
mas o Zé Ramalho pode gravar,
se lhe der na telha)
A mão da desigualdade
tolhe a nossa liberdade,
tira o pão dos escolares,
rouba os menores dos lares,
do chão tange o camponês,
na cama serve ao burguês.
Esse quadro que nos veste
é tão letal como a peste,
pois, senão, das massas vede
suas dores, fome e sede,
mazelas aos borbotões,
das cidades aos sertões.
Eis um painel que se pinta,
não com os matizes da tinta,
mas com o pincel da miséria:
a dor geral, muito séria,
que sobre todos se abate
é que ninguém dá combate.
Corruptos, mercê dos pobres,
alguns nadam nos seus cobres,
e o político, coquete,
joga no povo confete,
prega a moral do cinismo
e diz: parlamentarismo!
Se parlamentar resolve,
enquanto blá-blá-blá chove,
rasgai dele o vosso voto,
que o meu também eu não boto
na mão de quaisquer plateias,
exceção feita às ideias.
Apesar da crise séria,
dos estigmas da miséria
por que tanta gente passa,
convém pôr os pés na praça,
com crença na afirmação:
a crise tem solução.
(Maio de 1993)
Fort., 15/11/2009.