AMA-RELO, LERO, LERO
E o vento é verde, verde, verde
Por cima das capas e fardas
Destacadas e graduadas
Nas ruas pra te vigiar
E o sangue é preto, preto, preto
Por baixo dos panos e postos
Pra nós apenas supostos
Cobrindo o ar do teu doce lar
E a fruta é roxa, roxa, roxa
Por dentro dos documentos
Certificados ou notas de estabelecimentos
Que nega saúde ao te pagar
E o pão é rosa, rosa, rosa
Por fora dos trocos e trancos
Já inclusos nos teus tamancos
Que a morte ainda vem pisar
E o pensamento é branco, branco, branco
Por mais que haja a malícia
De nós também patrícia
Só pra te fazer gorda e suspirar
E a corda é vinho, vinho, vinho
Por nunca poder ser vinagre
Vai, além disso, cabeça-de-bagre
Dar-nos pompa pra nos disfarçar
E a roda é anil, anil, anil
Por quem de nós o máximo de crença
Mesmo tendo de ti uma presença
Espontaneamente feita de limiar
E eu de ti queremos nós negros
Alvos, alvos, alvos ou quase marrom
Amarelo lero, lero quero o tom
Só para poder aqui findar.
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Salvador, num 08-09-1977, em tempos de ditadura.