Retrato do Abandono

Sentir o frio entrar pelos ossos maltratados

e a fome varar os intestinos colados

traz a vontade de fugir da realidade

de isolar-se, de despir-se da humanidade.

Igual uma fera qualquer andar farejando

à procura de vítimas que estejam caminhando

com coisas que se possa subtrair

e matar a fome e a sede do existir.

É assim o retrato do abandono

dos que não dormem, mas têm sono

não tem moradias, mas sentem frio

sobrevivem, mas com a vida por um fio.

Estão à margem de uma sociedade

que diz não excluir e ter caridade

porém não enxerga as figuras abandonadas

deixadas de lado e às traças jogadas.

Egoísmo é um sentimento que impera

tendo o meu, o resto tudo se tolera

não pode é faltar em minha carteira

o outro que fique sem o dinheiro da feira.

Não estando abandonado e passando fome

pouco me interessa se o outro a fome consome.

Meu Deus! Liberte minha alma dessa indiferença!

Que eu possa sentir a fome do outro e marcar presença!