Meninos de rua
Correndo pela rua,
Meninas e meninos, descalços,
Disputam espremidos,
No caos da vida urbana,
Os parcos espaços.
Em uma infância, tolhidos.
Podem vir do subúrbio,
Ou dos rincões do país,
Inserindo-se precoces no duro cotidiano.
Nascendo de ventres de fome,
Na antecipação da dor, do presságio
Do abandono, uma vida ceifada, reduzida a cada ano.
Precoces vendedores,
Comprem senhores, balas, chicles, cocadas.
Esmeram se na arte de convencer,
De contar seus dissabores,
Somente pedem, mas querem ser crianças amadas,
Seus olhares desconcertam, para não arrefecer,
Buscam na venda de balas, pão e leite para o porvir, não pedem favores.
Estranha pátria transforma em paria,
Os germens da esperança,
Desempregam os pais, desintegram laços familiares,
Retirantes, sobreviventes, faixa se amplia, na miséria,
Maria, Aparecida, José, Raimundo, e o que eles fariam sem a criança,
Sem lares, que nos incomoda a cada dia nos semáforos, nos bares...
Inventam programas, nomes pomposos, surgem bonitos rostos,
Vozes clamam, gestos acenam, de repente nos sentimos benfeitores,
Nos investimos de salvadores, mas só por um instante,
Voltamos à nossa rotina por um tempo, contritos, mas sempre aflitos,
Hipocrisia de um modo de viver injusto, réus confessos,
Na indiferença, no individualismo, na exclusão diária na qual somos atores,
E insistimos nesse sórdido papel, escravos de uma sociedade de consumo...
AjAraújo, o poeta humanista.