BRASÍLICA

Berimbau pendurado na parede

atávicas canções

raízes negras

Fio retesado dobra o arco, o arco

resiste, os iorubas

que fluíram exaustos

nas senzalas do bangüê

e nos quilombos

A cabaça multicor

boca aberta, sem vísceras

pende

Em minha cabeça

desvelam-se os sons afros, vela-se o agro

cocar indígena

Ressoa histórico

no silêncio do sótão,

o branco látego

do feitor.

– Do livro O SÓTÃO DO MISTÉRIO. Porto Alegre: Sul-Americana, 1992, p. 98.

http://www.recantodasletras.com.br/poesias/1904792