VOZES DE GAZA
Vozes se levantam contra razões insanas.
Aspiram ansiosas por vontades impolutas.
Mergulham suicidas em fontes profanas.
Caminham sem eira nem beira, resolutas.
O caminho é incerto, a luta injusta.
Contra o arbítrio o sabre se alevanta.
Palavras que voam em medida justa.
Contra o alvo vencido da guerra santa.
Porque mãos postas que ao céu se erguem,
Às seitas venerandas em incontido louvor,
Seqüestram, matam, apedrejam e soerguem,
Muros de vergonha e bandeiras ao terror?
Sob um céu de infinitas tempestades,
Tinta de sangue em lamina cortante.
Da boca que clama por vãs potestades
Cresce o delírio em clamor berrante.
Um profeta dormente em deliro astuto.
Promete ao homem-bomba sobranceiro,
Cem virgens por merecimento justo,
Num céu de paz e repouso derradeiro.
Uma guerra milenar que se arrasta.
Povos que se dizem de Deus, tementes
Tendo á sua frente uma fé devasta,
Violência maior espalhando sementes.
Jerusalém, Palestina, Terra Santa
Gerados em berço de ódios delirantes
Sua paz é tardia, sua luta é tanta,
Num cemitério de vozes suplicantes.
Milhares de almas ao desalento.
Esta é sua herança e seu legado.
Soprando pelos desertos, ao vento.
Em desespero a um povo renegado.
Esta luta que nunca termina
Sem vencedores e nem vencidos
Fazem-me transformar em rimas
O choroso lamento dos desvalidos.