CINCO SONETOS À MÃO

I - DO INDICADOR

Mais que convite honroso tenho uma incumbência,

uma tarefa de Héracles em mil canseiras,

compor cinco Sonetos ao luar das eiras

é em tão pouco tempo uma total demência…

Bloqueada a alma numa forte efervescência,

minha razão andando em férias lá p’ las Beiras,

não sinto inspiração p’ ra rimas lisonjeiras

porém vontade ingénua de oca transparência…

De súbito observei a minha solta pena

vagueando suavemente em toda a minha mão

e vi-a suportada pelos meus cinco dedos.

Eureka, nestes cinco há um que me condena

mas quando tudo custa basta qu’ haja união

e, oh, já nem sequer me lembro dos meus medos.

In RODA VIVA

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II - DEDO MINDINHO

Carinhoso mindinho da minh’ alma

eu sei-te mui sozinho sempre à espera

qu’ algum dos teus irmãos, ó sim, quem dera,

te leve a esfrangalhar a tua calma.

Em frente a ti, do outro lado da palma,

há um polegar cheio de vento e de quimera

fez-te uma saudação pouco sincera

partindo entre vaidades e sem trauma.

Tem poder o mangão, mas já fenece

desde as calendas ancestrais romanas,

nem dedilha p’ ra cima nem p’ ra baixo.

Se com ele contavas, olha, esquece

fica-te como és, um doidivanas,

do que andares com ele cabisbaixo.

In RODA VIVA

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III - UM NOBRE ANELAR

Entre todos os dedos um é sempre nobre

e por maior que seja a míngua desta terra

quer se opte pela paz ou pela guerra

há sempre um anel d’ oiro, prata ou cobre.

Na enorme variedade se descobre

certa fragilidade que encerra

toda a desgraça da pessoa que erra

desconhecendo a trama que ocorre.

Dizem alguns que nem tudo que luz é oiro

é bem verdade este saber que é excelso

e para a Humanidade constitui tesoiro.

Quem se habitua a nobre já não tem regresso

muito menos p’ ra longe vá todo o agoiro

pois quem pobre nasceu almejará sucesso!

In RODA VIVA

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IV - IN MEDIO VIRTUS

Diziam os Antigos, naquelas alturas

em que qualquer humano sofre um grande impasse,

dever sempre optar-se por sanar fissuras

antes que todo o mal termine em desenlace.

Assim, depois de retiradas as figuras,

os dois extremos ‘stão dispostos face a face,

revelando por si verdades bem seguras

que a realidade já não pode ter disfarce.

As coisas e as pessoas podem ser pequenas

mas as acções, ao conseguir vencer dilemas,

fazem que as mesmas se transformem por magia…

Por fim estes Sonetos, difíceis na essência,

puseram-me a trist’ alma em sossego e clemência

transformando este tédio em doce nostalgia!

In RODA VIVA

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V - A CEREJA NO BOLO

Qual polegar, valente e solto,

com ‘special prerrogativa,

nunca me deixo à deriva

criando um mistério envolto.

Na arena, a fera evasiva

com as garras num sufoco,

mostrei sucesso inequívoco

em coragem, sangue e vida.

Tal como no Coliseu

‘sperando um gesto imperial

como aquela gente tonta…

O risco s’ esvaneceu

qual cereja ornamental

e já nada m’ amedronta!

Frassino Machado

In RODA VIVA

F I M

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 18/10/2009
Reeditado em 25/10/2009
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