Os sem-nada
Nasceu para viver como se vive com um salário
Pedindo o fim do mês ,contando as contas em rosário
Como cumprir aquilo, que estabeleceu em avenças
Mantendo seu orgulho, apoiando-se, agarrado em crenças
Correndo atrás de um carro, a despejar despojos
Que em casa de bem-aventurados chama-se sobejos
E ele que vive onde tudo falta, onde nada sobra
Vive, ou desvia-se da morte em permanente manobra?
Um manobrista, a quem a vida não deu veículo
Um acomodador, que na Bíblia procura fascículos
Para tirar do antro, ou do viciado seu filho do vício
Céu, quero o fim da guerra, quero assinar o armistício
Quero parar de viver, ou quero deixar de viver morrendo
Em clerical sindicato, meus pares reforçam meu referendo
Que todas as preces nos permitam no mundo ter vivido
Que não se enterrem em covas rasas nós, os excluídos