Pílula da farinha (a geração)

Somos deuses

que escrevemos torto em linhas erradas,

mas também sabemos guardar segredos

que precisam ser urgentemente revelados.

Somos anjos

com um pé no Céu e o outro no ICM da FEBEM,

que gastamos nosso tempo

fugindo da verdade,

rindo e chorando como meio de justificar a fuga.

Somos monstros

com olhares gentis de burocratas escravocratas

aristocratas tecnocratas psicopatas cristãos,

rogando à divindade

êxito na guerra santa.

Sou um homem

no prazer mundano do teu corpo;

embora nele eu volte à infância

pensando em crescer,

continuo a saber que assim está certo,

pois somos crianças

que brincamos de casinha, comidinha, escolinha,

médico, papai-e-mamãe,

carrinho de tração, Comandos em Ação, Falcon,

Transformers...

Somos demônios melancólicos,

que choramos sobre o sêmen derramado

entre um gole e outro de torpor líquido.

Somos macacos

que fazemos questão de carregar sempre

em nosso coração gorduroso

a saudade do Paraíso Perdido

que nunca sequer vimos.

NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO

me faça voltar ao cubículo!! Não me reduza!!

Quero nascer de novo!! Quero outra chance...

Não quero acreditar no que vejo...

Não me obrigue a encarar a sombra em mim!!...

Não...

Somos cadáveres sem identificação,

atores sem papel,

cachorros sem dono,

mendigos,

fugitivos,

astronautas lisérgicos,

somos assassinos,

somos inimigos públicos,

somos nada quando

o pó está em falta,

somos Bananas de Pijama,

cadáveres,

atores,

atletas,

palhaços,

poetas,

eunucos pelo Reino dos Céus.

Somos pedras rolantes:

cegos, surdos e mudos no Amor

e doentes na Verdade.

(Obrigado, farinha,

obrigado.)